Por Eduardo Valério

Quanto mais cedo for a implantação da governança corporativa na empresa familiar, maiores são as chances de formar uma companhia estruturada e integrada, pronta para enfrentar os desafios do mercado. Entre as novas gerações de gestores a preocupação com a administração dos negócios tem se mostrado uma tendência. De acordo com pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers (PwC), divulgada em 2016, 83% dos novos líderes empresários brasileiros estão preocupados em administrar questões familiares, sendo que uma boa parcela se dedica a conhecer o mercado antes de assumir cargos de gestão. Segundo o levantamento, 73% dos brasileiros trabalharam em outras empresas antes de iniciar carreira na sua própria.

Este é um cenário bastante interessante e promissor para as gerações que estão iniciando sua vida profissional dentro da empresa da família. Isso porque a governança corporativa, quando formulada e aplicada de maneira profissional, traz diversos benefícios aos negócios em longo prazo, tanto em termos de organização financeira quanto social. Entretanto, entre os desafios deste processo, está o de analisar as necessidades da empresa e, a partir disso, avaliar se os herdeiros e sucessores têm competência e experiência suficientes para atendê-las.

Na minha atuação em mais de 180 projetos à frente da GoNext Governança & Sucessão, percebo que a iniciativa de aderir aos instrumentos de governança corporativa nas empresas parte, principalmente, dos gestores pertencentes às novas gerações. Mais de 60% dos nossos trabalhos foram iniciados a partir das demandas desse público. Geralmente, herdeiros que pertencem a essa geração possuem um pensamento mais voltado para a administração macro, envolvendo, muitas vezes, conselheiros externos, com experiências diferenciadas no mercado, que podem contribuir de maneira mais isenta nas tomadas de decisão e, inclusive, contribuir para definir quais são os maiores déficits da organização que precisam ser sanados. Diferentemente dos sócios fundadores, que na maioria dos casos mostram mais resistência à implantação da governança, seja no processo sucessório ou na reorganização das funções administrativas e objetivos da empresa.

Ainda de acordo com o estudo da PwC, os herdeiros demonstram cada vez mais vontade em se ambientar com a cultura organizacional e demandas da empresa, antes mesmo de assumir um cargo formal. Cerca de 90% dos brasileiros entrevistados afirmaram participar dos conselhos de administração para ouvir e entender como funcionam os processos internos e quais são as áreas de risco. Dessa forma, conseguem avaliar se estão aptos ou não a fazer efetivamente parte do quadro de gestores.

Essa prática é muito benéfica e, inclusive, um dos pontos que mais indicamos aos herdeiros no processo de governança: realizar uma autoavaliação sobre fazer ou não parte dos negócios da família. Em caso de resposta positiva, nossa recomendação é sempre levar em conta o panorama geral da empresa, com suas metas e métodos internos, bem como separar as relações de gestor das de membro da família. O timing da governança? Não há uma determinação a respeito. Os instrumentos que ela propõe vêm sempre agregar. Porém, quanto mais cedo, menores os riscos de enfretamento de crises ou impasses de ordem pessoal entre familiares.

 Eduardo Valério é graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Estratégia e Marketing pela Kellogg School of Management, especialista em Governança Corporativa para Empresas Familiares pela The Wharton School, Pennsylvania e especialista em Gestão pelo Insead. Eduardo é diretor-presidente da GoNext, especializada em gestão de negócios e implantação da governança corporativa em empresas familiares.