Um setor fundamental para a economia que vem se transformando e acompanhando as demandas do mercado com a ajuda da tecnologia é o de logística. Devido à sua importância, o GoNext Fórum convidou Carlos Cesar Meireles Vieira Filho, CEO da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol) e vice-presidente da Associação Latinoamericana de Logística (ALALOG), e Djalma Vilela, membro do GoNext CEO e diretor executivo da Multilog, considerada uma das maiores empresas logísticas do Brasil, para falarem sobre as perspectivas desta área e do supply chain no pós-pandemia aos CEOs e presidentes de conselhos.

De acordo com Vieira Filho, o setor de logística em nível mundial começou com transporte rodoviário de cargas e armazenamento, se expandindo e desenvolvendo novos negócios, cada um com suas particularidades. “Tivemos alguns marcos épicos, como o fim da Guerra Fria, a Constituição de 1988 – que permitiu que os ativos de logística fossem transferidos para o setor privado por meio de licitação –, o fim da inflação em 1994 e o ingresso de operadores estrangeiros no Brasil em 1995. O setor passou a ter um caráter multimodal, utilizando vários regimes fiscais, e hoje é essencial para a economia”, destaca o CEO, que tem mais de 24 anos de experiência como executivo na área operacional e em novos negócios de operadores logísticos e portuários.

Vieira Filho também explica que as empresas que ganharam esta nova formatação se depararam com insegurança jurídica e outros desafios. Com a criação da Abol, em 2012, foi possível ter uma visão mais integrada. Entretanto, sem haver uma classificação nacional de atividade econômica definida e existindo muitos espaços “cinzentos” entre as legislações, a instituição, em conjunto com outras organizações, fez um estudo aprofundado e definiu que o operador logístico é a pessoa jurídica capacitada a prestar, através de um ou mais contratos, por meios próprios ou intermédio de terceiros, os serviços de transporte em qualquer modal, de armazenagem em qualquer condição física ou regime fiscal e de gestão de estoques. Para determinar o tamanho do mercado, a associação está finalizando um estudo em parceria com outras entidades visando revelar dados como número de empresas, empregos diretos e indiretos, montante de encargos e tributos recolhidos e faturamento. O levantamento deve ser finalizado e divulgado em breve.

Operadores logísticos no pós-pandemia

Durante a pandemia da COVID-19, os operadores logísticos foram reconhecidos como “serviços essenciais” e se consolidaram como provedores de soluções integradas, focadas em excelência operacional, segurança, competitividade, compliance, inovação tecnológica e sustentabilidade. Aspectos como gestão de riscos e custos, saúde ocupacional e eficiência ganharam ainda mais destaque na agenda do setor. “As melhores práticas se tornaram elementos de diferenciação entre as empresas e a meta sempre será o nível de excelência. A implementação de tecnologias como a internet das coisas, big data, inteligência artificial, automação, robótica, multichannel, crosschannel e omnichannel faz parte da demanda e da necessidade do mercado. Essas tecnologias já fazem parte do nosso universo e estarão cada vez mais presentes no novo normal”, observa Vieira Filho.

Expansão do e-commerce

O CEO da Abol também evidenciou a expansão do e-commerce durante a pandemia. De acordo com o site e-commerce Brasil, o faturamento do setor em 2019 foi de R$ 75 bilhões. Para este ano, a expectativa é de R$ 100 bilhões. Somente em abril de 2020, o e-commerce faturou R$ 9,4 bilhões, um aumento de 81% em relação ao mesmo período do ano passado. Com a COVID-19, houve um crescimento de 400% no número de lojas virtuais. “O avanço do e-commerce é um caminho inexorável e os operadores logísticos estão totalmente envolvidos neste setor”, aponta.

Expectativas para o futuro

Vieira Filho afirma que será necessário repensar as cadeias globais de suprimentos e cadeias produtivas para haver menor dependência externa e fortalecer e diversificar a indústria nacional. “As empresas terão que ser mais flexíveis, ágeis, inclusivas e menos conservadoras. Também haverá mudança na mobilidade urbana, consolidação do home office e do coworking e mudanças nos hábitos e práticas de consumo. Um repensar geral entre o físico e o digital. Assim como o pós 11 de setembro trouxe uma nova ordem mundial no campo da segurança antiterrorismo, o pós-COVID-19 trará novos protocolos, rotinas e práticas para a segurança sanitária.”

Também será necessário melhorar e investir fortemente em infraestrutura, construir um novo pacto social para minimizar as desigualdades e a concentração de renda e realizar a reforma tributária para que o Brasil melhore seus índices e posições em rankings mundiais importantes, como o Doing Business, o Logistics Performance Index (LPI) e o Relatório do Fórum Econômico Mundial.

Multilog

Dentro de todo o panorama exposto, Vilela destaca como a Multilog investe em novos processos, na automatização e na aquisição de competências para acompanhar as demandas do mercado, especialmente no que diz respeito ao e-commerce. “Nós temos investido em tecnologia e inteligência artificial. Desenvolvemos um avatar na área de recursos humanos e queremos levar isso para a experiência do cliente no ano que vem. Temos o Gênius, que é um sistema na palma da mão para o cliente acompanhar toda o accountability da logística desde a chegada da mercadoria no Brasil. O nível de investimento é de alguns bilhões de reais, no sentido de trazer mais tecnologias, mais plataformas de inovação. O setor é dinâmico, e a Multilog tem um plano bem traçado para seu crescimento”, acrescenta o diretor, que tem mais de 20 anos de experiência na área de logística em empresas multinacionais e nacionais de grande porte.