Perfil do líder chinês Xi Jinping na trajetória de hegemonia comercial do país
08/02/2021-Por: Redação GoNext
A China é um grande ponto de interrogação e desafia nossos conceitos e preconceitos sobre a organização geopolítica do mundo. A noção de “comunismo” do próprio país é elástica no que tange à economia e converge em um crescimento desenvolvimentista que supera os moldes capitalistas ocidentais. Para iniciar a agenda de encontros do GoNext Fórum de 2021, convidamos Fausto Godoy para explicar, no encontro online realizado no dia 4 de fevereiro, a China de hoje e o que direciona a nação em seu projeto de futuro.
Fausto Godoy é doutor em Direito Internacional Público pela Universidade de Paris, tendo ingressado na carreira diplomática em 1976. O pesquisador serviu nas Embaixadas do Brasil em Bruxelas (1978), Buenos Aires (1980), Nova Delhi (1984), Washington (1992) e Tóquio (2001). Foi designado embaixador junto aos governos do Paquistão (2004) e Afeganistão (2005) e serviu posteriormente em Hanoi (2007), Consulado do Brasil em Tóquio, Escritório Comercial do Brasil em Taipé, e nas Embaixadas do Brasil em Bagdá (sediada em Amã), Daca, Astana e Yangonoi Cônsul-Geral do Brasil em Mumbai (2009).
Hoje, Godoy é membro da Diretoria da Câmara de Comércio Brasil-Índia e coordenador de Estudos e Negócios Asiáticos na ESPM.
A palestra do GoNext Fórum começou com comentários e análises do pesquisador sobre a participação do líder chinês Xi Jinping na edição virtual do Fórum Econômico Mundial, realizada no dia 25 de janeiro. Na transmissão, o representante chinês anunciou ao mundo a erradicação da pobreza absoluta na China em 2020, ano marcado por desafios econômicos e sociais.
O que isso diz dos projetos chineses? Pouco mais de uma semana depois do anúncio, a GoNext trouxe Godoy para apresentar aos integrantes do GoNext Fórum como compreender quem é Xi Jinping e como ele sustenta alguns pilares da civilização chinesa até hoje, mas com uma conexão contemporânea com a própria população e com os arranjos econômicos globais.
Compreendendo a nação e o líder Xi Jinping
“Quantos países a China invadiu para tomar território? Nenhum. A questão territorial para a China não é importante. Ela nunca se viu como país geográfico, ela se vê como civilização”, explica Fausto Godoy, que teve quase duas décadas de trabalho e residência em países asiáticos.
Segundo o pesquisador, Xi Jinping retoma em seus discursos, desde que assumiu a presidência da República Popular da China em 2013, a superação do país em relação ao mundo depois do que os chineses chamam como o século das humilhações.
Esse conceito refere-se à experiência chinesa diante do imperialismo da coroa britânica e dos próprios vizinhos asiáticos que resultou em perdas significativas de soberania no decorrer do século XIX. Século esse marcado pelas disputas territoriais e imperialistas.
Godoy apresenta que, em 2018, o Congresso Nacional Popular aprovou a remoção do limite de dois mandatos na presidência da China. Portanto, analistas arriscam a dizer que o atual mandato de Xi Jinping pode ser vitalício e baseado em pilares estruturais da civilização chinesa.
“O século XIX foi o século do ‘eu’ no ocidente. Para a China, foi a consolidação do Confucionismo, sistema filosófico amplo sobre a ideia de ‘nós’”, explica Godoy, ao indicar que o impacto dessa filosofia foi moral, político, pedagógico e religioso.
Além dessa organização, a China permanece ligada à ideia do mandato do céu, um líder que está legitimado a pensar e atuar pelo todo, como em uma missão divina pela civilização.
Xi Jinping reúne todas essas características e consegue, à chinesa, expandir o alcance econômico do país, remontando os ideais dos três grandes líderes chineses que projetaram a dominação global do país após o “século das humilhações: Sun Yat-sen, que arquitetou as estruturas da revolução que fundou a República, Mao Zedong, fundador do movimento ‘Nova China’, e Deng Xiaoping, responsável pelas reformas econômicas que “abriram” a economia chinesa ao mundo.
Made in China 2025 e a nova hegemonia chinesa
“Em 1993, o PIB da China era equivalente ao do Brasil, 300 mil dólares a mais do que o nosso à época. Hoje, como explicar a diferença entre os PIBs?”, provocou os participantes ao apresentar os planos econômicos chineses que resultaram em um crescimento do PIB de 2,3% em 2020. Aproveite para conferir o Relatório do Escritório Nacional de Estatística da China sobre a recuperação do país em 2020.
“O século das humilhações ainda é um trauma psicosocial dos chineses e impulsiona o país a liderar a economia mundial até o fim do século XXI. O que a China quer agora é o mundo, conduzidos pelos valores da filosofia confucionistas”, explica Godoy.
“A China é o principal parceiro comercial de pelo menos 124 países. E o que tem mudado nos últimos anos é a qualidade dessas parcerias, pois ela exportava produtos de tecnologia média. Com o plano Made in China 2025, de 2015, o país mudou esse perfil, quando elencou 10 setores da economia para promover avanços, reduzindo a dependência de tecnologia do país e se transformando em exportadora de alta tecnologia”, apresentou o especialista.
Todo o crescimento industrial da China está pautado neste plano de desenvolvimento, tendo como território-chave o Delta do Rio das Pérolas, onde se concentram as grandes zonas tecnológicas do país. “É o Vale do Silício da China que concentra esses 10 setores de tecnologia de ponta, já em uma rota de exportação estratégica”, comenta.
Confira abaixo, os 10 setores-chave do plano Made in China 2025:
Eletrônicos e microchips
Máquinas agrícolas
Novos materiais
Eficiência energética, energia renovável e carros elétricos
Controle numérico e robótica
Tecnologias da Informação
Tecnologias aeroespaciais
Equipamentos ferroviários
Engenharia oceânica e navios de última geração
Dispositivos médicos avançados
Os resultados desse plano são práticos – como vimos acima nos resultados de PIB -, mas também na liderança mundial da tecnologia 5G, protagonizada pela empresa chinesa Huawei.
“A China ainda pretende, pela atuação de Xi Jinping, criar uma nova Rota da Seda, que foi responsável pela dominação global da economia chinesa até o século XIX. Essa nova rota, tecnológica, irá restaurar a união comercial entre Ásia, Europa e África”, apresentou Godoy.
Desafios da China
“Apenas um terço da China é agricultável e o país enfrenta um crescimento populacional desigual”, comentou Fausto Godoy, apresentando que o buraco populacional do país desde os anos 70 é grande e tende a se manter assim.
A urbanização é tema fundamental no século XXI para a China. Das 10 cidades mais populosas do mundo, apenas Nova Iorque é ocidental.
Nesse cenário, as políticas de 1 só filho dos anos 70 resultaram no envelhecimento da população, a urbanização ágil e a necessidade cada vez maior de pactos comerciais que ajudem a China a alimentar sua população.
Ao final da palestra, todos os participantes puderam tirar dúvidas e dialogar sobre os diversos temas que colocam a China na pauta central da evolução dos negócios brasileiros.
Aproveite e confira abaixo a participação do presidente chinês, Xi Jinping, no Fórum Econômico Mundial:
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