Os fatores ambientais, sociais e de governança estão inseridos nas dinâmicas de mercado e exercem, de forma crescente, impactos nas decisões de negócio. O GoNext Presidentes de Conselhos trouxe o tema “O impacto do ESG (conduta ambiental, social e de governança) nas organizações”, em seu primeiro encontro online de 2021, realizado na manhã da última quinta-feira, 25.
À frente do debate, o convidado especialista Alexandre Sanches Garcia, doutor em Administração (FGV/SP), Pró-Reitor de Pós-Graduação da FECAP – Fundação Álvares Penteado, conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo, especialista nas áreas de auditoria e controles internos.
“Se ainda sobram dúvidas sobre o impacto do fenômeno ESG nas empresas, devemos refletir sobre o desdobramento financeiro e de reputação de empresas que protagonizaram, nos últimos anos, exposições por crimes ambientais, o relacionamento e tratamento das empresas terceirizadas e os informes de governança que geraram quedas nas ações de grandes empresas”, iniciou o debate, apontando exemplos de exposição crítica de negócios nacionais.
Apesar da sigla ganhar força nas diversas mídias e nos debates internos das organizações, Alexandre Garcia afirma que os parâmetros ESG se inserem em um debate mais amplo e mais importante: a Gestão de Riscos.
“Todos os exemplos de empresas que sofreram os impactos acima não tiveram uma boa condução na gestão de risco”, explicou, lembrando aos presidentes de conselhos presentes a relevância do cuidado com o acompanhamento e análise permanente de todos os agentes das cadeias de produção, principalmente os terceirizados.
“Evoluir a sua resposta organizacional para os parâmetros ESG é uma consequência do trabalho da Gestão de Risco. As ações e iniciativas precisam estar aliadas a uma gestão analítica e proativa dos riscos que estão na sua organização”, orientou o doutor em Administração.
A estrutura das dinâmicas ESG no mundo dos negócios
Para apresentar como os parâmetros ESG se comportam no mercado, Alexandre Garcia apontou de onde nascem as demandas de cada agente que influenciam essas dinâmicas.
De forma clara e objetiva, o doutor e pró-reitor de Pós-Graduação da FECAP aponta as “dores” que resultam nessas demandas a partir da tríade: empresários, órgãos reguladores e mercado financeiro.
Por exemplo, os empresários precisam de fôlego para suas atividades econômicas e dar respostas quanto ao propósito de suas organizações, com inteligência para minimização de impactos e atenção às externalidades.
Já os órgãos reguladores, como ONU, ISO e IFRS no âmbito internacional, e CVM, BACEN e B3, nas fiscalizações e regulamentações nacionais.
O mercado financeiro, por sua vez, representa uma liderança nessas demandas, com fundos e empréstimos cada vez mais robustos no que tange aos parâmetros ESG em suas decisões de investimentos.
Esse comportamento dos investidores gera impactos reais nas estratégias das empresas de captação de investimento e valorização da companhia.
“De 0 a 100, a nota de práticas de ESG, os países do BRICS estão abaixo dos 50%. A velocidade da nossa justiça é muito morosa. Os empresários vão sofrer muito até haver uma regulamentação que identifique um processo unificado de atender a todos esses parâmetros. Por isso, quando falamos da pressão de mercado do ESG, estamos falando principalmente da pressão do mercado financeiro”, explicou Alexandre Garcia.
Histórico ESG no mercado financeiro
Contextualizando o que hoje vivemos no mercado, é preciso voltar para a raiz dessa visão.
Alexandre Garcia contou aos participantes do fórum que, no início de 2005, a Organização das Nações Unidas (ONU) convidou representantes de 20 investidores institucionais (na maioria fundos de pensão) oriundos de 12 países, incluindo o Brasil, para se unirem em um processo de desenvolvimento de princípios de responsabilidade social, ambiental e de governança nos investimentos.
Como consequência, foi criada a iniciativa denominada Principles for Responsible Investment (PRI), ou Princípios para Investimentos Responsáveis, em português. Trata-se de uma rede internacional de instituições ligadas à cadeia de investimentos que, por meio de adesão voluntária, se comprometeram com a incorporação das questões sociais, ambientais e de governança corporativa às práticas de análise, decisão e gestão de seus investimentos.
O impacto disso foi geral em toda a economia global, com a ampliação de ações e iniciativas privadas em energia limpa, adequações ágeis às demandas dos consumidores e grandes investimentos em gestão de marca e riscos de reputação.
“A pressão real do ESG está vindo do mercado financeiro e não para de evoluir. Em 2020, tivemos novos parâmetros das agências reguladoras neste sentido”, alertou.
Medidas como a Instrução Normativa 480 da CVM, as ações regulatórias em dimensões de sustentabilidade do Banco Central, a resolução dos limites dos fundos de pensão foram explicadas e elaboradas para os integrantes do GoNext Presidentes de Conselhos.
Mensurando ESG
Diante dessas configurações de mercado e das pressões que irão definir, cada vez mais, o sucesso dos negócios, como então criar uma metodologia de avaliação? Alexandre Garcia respondeu às principais dúvidas levantadas no encontro, apontando um caminho seguro para amadurecer uma resposta efetiva aos parâmetros ESG.
“Conhecer esse Relato Integrado da CVM é um bom ponto de partida para compreender como evoluir nos parâmetros ESG. Mas sugiro começar pelos seus contadores, para já compreender sua situação pelo que vocês têm em mãos”, explicou o palestrante.
“Em estratégias, por exemplo, de identificar a Demonstração de Valor Adicionado, você já pode perceber, por meio das suas demonstrações contábeis, como a sua empresa distribui riquezas de acordo com as condutas socioambientais e de governança corporativa”, orientou Garcia.
Foram apresentados os parâmetros detalhados do Global Reporting Initiative, o caráter de responsabilidade social das Normas ISO 9000 / 9001 e a matriz de materialidade nos princípios do Relato Integrado.
“Partindo desta trilha de parâmetros, seu negócio é capaz de realizar um bom trabalho de avaliação de riscos, medindo impactos e projetando melhores índices de adequação”, apresentou.
O caminho é trabalhoso, demandando cada vez mais amadurecimento nas estruturas organizacionais que acarretam maior qualificação para os parâmetros ESG. Mas não há como fugir desses dois grandes focos:
- Fazer a gestão de risco de forma escalável
- Fazer a divulgação de relatórios com transparência
Ao fim do encontro, Alexandre Garcia atendeu às principais dúvidas dos integrantes do fórum. “Parabéns a GoNext por trazer este assunto, que este nosso encontro gere insights e iniciativas a todos os presentes”, concluiu o doutor.
O GoNext Presidentes de Conselhos reúne executivos de empresas de todo o Brasil, com ações e encontros voltados ao desenvolvimento e aplicação das melhores práticas nos Conselhos de Administração. Para participar deste seleto grupo, inscreva-se aqui: https://bit.ly/3dL2DTT