Nesta quarta-feira (08), o GoNext Fórum reuniu mais uma vez CEOs e presidentes de conselhos para debater um tema fundamental para as empresas em meio à crise da COVID-19: os impactos no cenários econômicos local e global. O convidado da videoconferência foi Marco Caruso, economista, doutorando em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e estrategista chefe do Bradesco Private Bank. Além de apresentar dados e comparar o momento atual com as últimas crises econômicas – a que afetou principalmente os Estados Unidos em 2008 e a que aconteceu em 2011 na Europa –, Caruso ainda analisou as perspectivas no período pós-crise.
O especialista destacou que a crise do novo coronavírus foi súbita e surpreendeu a todos, já que ninguém consegue prever que um vírus seja capaz de parar a economia global em tão pouco tempo. Para ele, um fato positivo é que esta condição tem data para acabar. “A crise é de saúde, ainda não é financeira. Por ter origem na questão da saúde pública, ela tem hora para acabar, seja por conta da descoberta de tratamentos eficazes ou pelo fim da quarentena. Só não sabemos quando irá terminar. O impacto é forte, mas é temporário. A crise de 2008, por exemplo, não era uma parada temporária, era mais duradoura”, afirmou.
No contexto global, a disseminação da COVID-19 ampliou as incertezas, o que resultou em grandes revisões do Produto Interno Bruto (PIB) dos países. A reação do mercado financeiro foi a mais rápida da história e, apesar de ser uma recessão global profunda, a previsão é que seja de curta duração. As quarentenas irão impactar significativamente a atividade global, porém, as características desta crise somadas ao efeito base sugerem uma aceleração em 2021. “O PIB mundial deve ficar negativo neste ano. Entretanto, as estimativas para o ano que vem são de crescimento maior do que estava previsto antes do surgimento da COVID-19. Muitas vezes no olho do furacão, como estamos agora, a tendência é achar que o futuro será igual ao presente. Mas todos os números de 2021 estão sendo revistos para cima, pois depois de um ano ruim não será preciso fazer muito esforço para crescer”, comentou.
O economista observou que os bancos centrais pelo mundo agiram rapidamente e a postura foi de corte de juros e injeção de liquidez no mercado a partir da compra de títulos públicos e privados. As medidas são resultado dos aprendizados obtidos com as crises de 2008 (EUA) e 2011 (Europa). “Só em março, os bancos centrais injetaram US$ 1,5 trilhão na economia. Mesmo que tenhamos uma visão ruim para 2020, devemos levar em consideração que a disseminação do vírus e a quarentena vão acabar. No fim, teremos uma enxurrada de liquidez e a possibilidade de um crescimento mais forte em 2021 para repor o que foi perdido. Outro ponto interessante é que os governos perderam o pudor em termos de gastos. A Alemanha, que é um país extremamente austero, aumentou bastante o impulso fiscal e deve gastar mais e/ou reduzir impostos em um percentual de cerca de 4% do PIB alemão”, apontou.
Outros governos ao redor do mundo também estão apostando em estímulos monetários e políticas fiscais para estabilizar o crédito e a economia. Segundo Caruso, é uma crise de saúde e não há tempo para teorias, porque não faz sentido politicamente nem humanamente. Por isso, os poderes públicos estão agindo rapidamente. “Para a pandemia não se transformar em uma crise de crédito, é fundamental dar suporte às empresas e aos trabalhadores. Não é possível dizer que o pior ficou para trás, pois é necessário encontrar uma solução para o vírus e ter confiança para encerrar a quarentena, ou seja, é preciso reduzir significativamente os casos ativos da doença. Todos os países estão usando o padrão da China, pois tudo aconteceu primeiro lá. Agora o epicentro da preocupação são os Estados Unidos, país que ainda não alcançou o pico de casos. A redução dos casos não é suficiente para a normalização, mas é essencial”, esclareceu.
Em relação ao Brasil, o economista acredita que a quarentena ainda vai continuar por algumas semanas, afetando o PIB, que deverá ser em torno de 3% ou 4% negativo. Apesar da alta desvalorização do câmbio e da queda no preço das commodities, a crise é desinflacionária. Caruso explicou que a demanda não vai aguentar a reposição de preço e a inflação vai cair. Além disso, os gastos públicos irão aumentar ainda mais. “O Brasil estava começando a se organizar. Ele já é muito endividado publicamente. Antes da crise, a dívida era de aproximadamente 75% do PIB, e agora pode se encaminhar para 85%. A recuperação depende de um fator essencial: as despesas têm que ser vinculadas à crise, que não pode passar muito de 2020. Com o fim deste período, deve-se enxugar as despesas e retomar o ajuste fiscal”, pontuou.
Mesmo sendo profunda, o especialista considera que a recessão é passageira e terá uma recuperação duradoura, com longo período de aceleração da economia, se os gastos públicos ficarem restritos a este ano e o ajuste fiscal acontecer. “A crise de crédito é o principal risco. Vamos superar a crise, mas de forma desigual. Setores ligados ao lazer, turismo e serviços vão demorar a se recuperar. Eu arrisco a dizer que a indústria conseguirá uma recuperação mais rápida. Mas, de uma forma geral, a retomada terá uma velocidade um pouco mais lenta”, acrescentou.