Quando se trata de apostar na frágil recuperação de Portugal, as empresas familiares são fundamentais.
Uma olhada no índice de referência PSI 20, que está tendo seu melhor ano em relação ao Stoxx Europe 600 desde 2007, revela que seis das sete companhias com melhor desempenho são parcialmente controladas por um fundador ou por herdeiros. A principal ganhadora, a Mota-Engil, cujo presidente António Mota é filho do fundador da construtora, de 71 anos, mais do que dobrou em valor desde o encerramento de dezembro.
“À medida que o risco de investir em Portugal foi diminuindo, as companhias familiares pequenas se tornaram ímãs para investidores”, disse Paulo Monteiro, gerente do fundo Invest Iberia, que administra cerca de 35 milhões de euros (US$ 41 milhões) em ações e títulos em Portugal e na Espanha. “As empresas familiares oferecem uma vantagem: geralmente elas têm uma orientação de negócios de longo prazo.”
Um aumento do turismo e das exportações e uma reativação do setor da construção estão impulsionando a recuperação econômica de Portugal e fortalecendo as ações de empresas como a produtora de celulose Altri, cujo presidente e fundador Paulo Fernandes detém uma participação de 12 por cento. Também receberam impulso The Navigator Company e sua empresa controladora, Semapa-Sociedade de Investimento Gestão, que pertence majoritariamente à família Queiroz Pereira.
Mudança de dono
As três ações subiram mais de 30 por cento desde o início do ano. A Corticeira Amorim, que pertence majoritariamente à família Amorim, e a varejista Sonae, controlada pela família Azevedo, também superaram o desempenho do índice de 18 membros, que subiu 16 por cento.
Um valor médio de 92,5 milhões de euros em ações mudou de dono diariamente no PSI 20 neste ano, cerca de 9 por cento a mais do que a média diária em 2016, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Empresas familiares
O Banco de Portugal elevou no dia 15 de dezembro sua projeção para o crescimento econômico do país em 2017 para 2,6 por cento, a taxa mais acelerada em 17 anos. As agências de classificação também estão adotando uma visão cada vez mais positiva. Em 15 de dezembro, a Fitch Ratings seguiu o exemplo da S&P Global Ratings ao retirar de Portugal o status de grau especulativo pela primeira vez desde 2011.
Embora o Moody’s Investors Service tenha mantido a classificação de dívida junk para a nação ibérica desde que o país solicitou um resgate de 78 bilhões de euros em 2011, agora passou a ter uma perspectiva positiva para o país. Portugal finalizou seu programa de resgate em 2014.
As empresas familiares representam 50 por cento do PIB de Portugal, cerca de 60 por cento dos empregos e entre 70 por cento e 80 por cento de todas as empresas, de acordo com o site da Associação Portuguesa das Empresas Familiares. Cerca de metade das empresas do PSI 20 tem um fundador ou uma família como acionista principal, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“À medida que os investidores olham mais atentamente para Portugal, eles estão encontrando algumas oportunidades de investimento em pequenas e médias empresas no índice PSI 20”, disse João Queiroz, trader da GoBulling, unidade do Banco Carregosa em Lisboa. “Muitas dessas empresas são familiares, o que mostra que há um compromisso dos fundadores da empresa no negócio e é um bom ponto de venda para os investidores.”
(Bloomberg) – Henrique Almeida — Com a colaboração de Sofia Horta e Costa e Paul Jarvis – UOL Economia